sexta-feira, 1 de maio de 2015

O jogo dos sete erros

Hoje eu tomei café com a Ana Maria Braga, o Loro José e o Luan Santana. Enquanto eu comia minha tapioca do lado de cá da televisão, eles bebiam suco e conversavam dentro da tela. Durante a conversa, todos assistíamos a cenas dos bastidores da gravação do DVD Acústico de Luan. Antes de começar o show, a jornalista Rafa Brittes circulava no meio da platéia. A plateia era formada por jovens mulheres, na maioria ainda adolescentes, todas vestidas com um visual aos 60. Essa era uma exigência para fazer parte da plateia. Para estar ali, as meninas participaram de um sorteio. Foram milhares de inscritas no sorteio para poderem fazer parte de um show menor, que se prometia intimista.

Rafa Brittes, parada junto a um pequeno grupo, dizia que só meninas sérias estavam ali, afirmando que todas eram comprometidas. Pedia para que mostrassem suas mãos e todas exibiram alianças idênticas. Ao pedido de que cada uma falasse o nome de seus respectivos namorados, todas deram a mesma resposta: Luan Santana. A jornalista, então, vira-se para a câmera e dá um recado para o cantor: É Luan, haja DVD para sustentar todas essas mulheres.

Ao entrar no camarim,  Rafa pergunta a Luan se a vida dele havia mudado muito desde o inicio da carreira. A resposta é sim e ela torna a pergunta ainda mais específica: “Muitas mulheres que você era a fim, e te esnobavam, te procuram hoje, que você é famoso?” Resposta:  “Sim. É o que mais acontece.”. A jornalista, então, pergunta qual a atitude dele: “Você aperta logo o DEL?”. Luan responde que depende: “Depende de como ela está.”. E ambos riem juntos.

Ao fim desse bloco de entrevistas, na mesa de café, Ana Maria insiste que Luan coma. Ele pergunta se ela está achando ele magro e ela responde que não. Ao que ele finaliza: estou gostoso, né?

Agora, eu quero propor um jogo de 7 erros. O que tem de errado nessa inocente conversa de cafe da manhã? 

     1)  Uma platéia só de meninas. Só meninas gostam do Luan Santana? Me pergunto qual o sentido de um cantor ter um público exclusivamente de meninas adolescentes.
2)   A brincadeira de que todas meninas são sérias pois são comprometidas. Mesmo sendo nitidamente uma brincadeira ela reforça o estereótipo de que para ser “séria”, a mulher deve ser comprometida, ou seja, deve ter um namorado, um noivo ou um marido, ou seja, deve ter um homem.  
3)   Todas são “casadas” com o Luan. Ao ser casado com todas, ele, obviamente, não é casado com nenhuma. Mas isso apenas reforça o velho conto do príncipe encantado. Imaginem o quanto a menina que o namorar será considerada sortuda, a “escolhida”.
4)   Se presume que mulheres são sustentadas por homens. Afinal, Luan deve vender muitos DVDs para sustentar todas suas mulheres. A ironia é que, na verdade, elas que o sustentam.
5)   Mulheres são interesseiras. Elas só começaram a notar o Luan Santana após ele ficar rico e famoso.
6)   Mas não quer dizer que o Luan Santava vá dispensá-las por elas só o procurarem depois da fama. Isso vai depender. Depender do que? Ah, se elas estão adequadas aos padrões de beleza. Esse é o parâmetro para uma mulher ser considerada digna ou não de atenção.
7)   O mais importante para um homem sentado à mesa do café da manhã é saber da apresentadora se ele está gostoso.

Acho que daria para continuar com mais alguns erros. Mas como o jogo clássico se resume a sete, vou parando por aqui. 

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Coração de estudante

Há cerca de três anos, eu venho tendo um pesadelo recorrente. Estou de volta à escola. Descubro que fui reprovada em geografia ou matemática e preciso voltar até a sexta série. Mas não basta refazer apenas a matéria na qual fui reprovada. Preciso refazer todas as matérias e todas as séries da sexta em diante.   No meio do pesadelo, começo a ficar muito tensa porque "já sou velha, e agora, não me formei, ainda tenho tanto que estudar, como vou arrumar um emprego???". E, ainda dormindo, me lembro que já terminei a escola, que já sou formada, que já passei por todas as etapas, que não sou obrigada a fazer tudo de novo. E, sabendo disso, tento fugir da escola. Mas não consigo. Me perco em escadas infinitas e corredores escuros. Ao tentar encontrar a saída, esbarro em  estudantes uniformizados e sem rostos. Acordo assustada, com taquicardia, e com Chiquinho e Micaela me encarando espantados.

Ultimamente, o roteiro mudou um pouco. Eu escolho voltar à escola. Eu escolho  refazer o ensino médio. E escolho isso tudo porque quero melhorar minhas notas. Mas eis que no meio desse esforço de rehab de notas juvenis, começo a achar isso tudo uma bobagem e resolvo desistir. E é aí que o pesadelo realmente começa. Eu não posso desistir. Tenho que ir até o final e fazer todo o ensino médio de novo. É uma escolha no melhor estilo "ajoelhou tem que rezar" .E aí o desespero toma conta de mim. E acordo assustada,  com taquicardia, e com Chiquinho e Micaela me encarando espantados.

E uma nova versão aparece. Mas dessa vez a escola está bem diferente. Nada de corredores escuros, estudantes sem rostos e escadas intermináveis. Em vez disso, os estudantes não só têm rostos, como são lindos e amáveis. A escola tem muita luz e muitas cores espalhadas em pincéis, lápis, papéis, revistas e tintas. E eu também estou diferente, sem me preocupar com provas e notas, sem tentativas de fugas, sem desespero. Não luto mais pra escapar desse sonho, que não se transforma em pesadelo. E o melhor de tudo é que nem preciso, pois não estou mais dormindo. Estou bem acordada, e aprendendo bastante. Pois é, sou estudante de novo e esse enredo tão mais colorido e interessante que aquele que habitava meus pesadelos recebe o nome de Moda.