quinta-feira, 24 de julho de 2014

E aí sim, fomos surpreendidos novamente!

"E aí sim, fomos surpreendidos novamente". Essa frase é do Zagalo e eu só consegui entender o real sentido dela recentemente, durante a Copa das copas. É que depois de sermos surpreendidos por uma derrota de 7 a 1 para Alemanha, fomos novamente surpreendidos quando, na disputa pelo terceiro lugar, o Brasil levou um gol da Holanda aos dois minutos do primeiro tempo. E perdeu de 3 a 0.

Essa semana, uma outra situação me fez lembrar, novamente, dessa dessa máxima do Zagalo. Uma situação que me rendeu um turbilhão de sensações, dificil de explicar. Foi domingo à noite. Um ônibus da linha 474 parou em um ponto da Avenida Vieira Souto, em Ipanema. Um catador de latinhas, que havia passado o dia na praia, catando latinhas, claro, embarcou no ônibus pela porta traseira. Ele deixou seus sacos carregados de latinhas em um banco vazio e se dirigiu ao cobrador, com a intenção de pagar sua passagem. Mas não chegou a fazê-lo. Foi interrompido por berros do motorista que o incitava a descer do ônibus, exclamando que elenão dirigia um caminhão da Comlurb e, por isso, não era obrigado a carregar lixo. O catador de latinhas, provavelmente já acostumado com situações como essa, deu meia volta e se dirigiu para a porta. Mas foi interrompido pelos passageiros que não aceitaram ser cúmplices dessa atitude do motorista. O motorista, então, desligou o motor do ônibus, e parado em plena Vieira Souto, disse que só prosseguiria viagem após o catador sair. Os passageiros revoltados defendiam o catador. O catador, cabisbaixo, sentado a um canto, constrangido, sentia que estava atrapalhando a viagem. O catador levantou novamente e os passageiros pediram que ele não saísse, reclamavam que era direito dele prosseguir na viagem. O catador não estava mais aguentando, queria sair do ônibus, dizia que tudo bem, que estava tranquilo. Então, os passageiros se levantaram e começaram a pedir suas passagens de volta pois iriam descer junto com o catador. Não sei como a história terminou, não estava lá, vi esse vídeo no youtube. Toda essa situação me enche de indignação, de vergonha, de dor, de revolta. Mas esses passageiros preencheram meu dia de alegria e um pouco de esperança. E me surpreenderam, novamente porque me lembraram de uma outra história.

Essa eu vi num desses jornais da tarde da Globo. Um funcionário de alguma prefeitura, não lembro qual, recebeu a ordem de demolir uma casa. Não lembro o motivo, mas talvez para passar alguma nova avenida ou construir algum edifício.Mas não esqueço o nome do encarregado da demolição, José. Na casa, muito humilde, morava uma mulher e seus filhos. Seu José ficou paralisado na escavadeira, não conseguia obedecer a ordem. O dia foi passando, foram chamados altos cargos da prefeitura, a polícia, a impensa. Tentaram convencê-lo, coagi-lo, ameaçá-lo. Mas seu José chorava não conseguia cumprir a tarafa que lhe fora determinada. Seu José foi então retirado, às lágrimas, pela polícia. Foi preso por desacato à autoridade. No dia seguinte, um outro funcionário. Mas seu José não conseguiu, não conseguiu demolir a casa, o teto humilde de uma família, chorou, sofreu e foi preso. Sempre achei essa história dolorosamente bonita.

E foi assim, da mesma forma seu José me surpreendeu, que fui novamente surpreendida pelos passageiros do 474.



sexta-feira, 18 de julho de 2014

Agora, eu lembro

Hoje eu descobri que Bento Ribeiro não é apenas o nome de um bairro do subúrbio carioca. É também o nome do filho de João Ubaldo Ribeiro. Hoje, dia em que o velho Ubaldo morreu, descobri isso. A morte do escritor e o nome do seu filho me trouxeram memórias que estavam empoeiradas em algum canto, algum canto tão escondido que eu nem mesmo lembrava que existiam. Mas agora, eu lembro.

Lembro vagamente de Bento Ribeiro, bairro de onde a Xuxa veio e onde meu padrinho morava, quando eu era bem criança. Lembro de um táxi, do Brizola, de ruas cheias e de um almoço. Do almoço, eu lembro sem lembrar. Lembro de estarmos num táxi. Meu pai na frente, eu, meus três irmãos e minha mãe espremidos no banco de trás. Lembro de uma exaltação, de ruas cheias, de trânsito. Era dia de eleição. E lembro que se falava do Brizola e do Miro Teixeira. O Miro, eu lembro porque meu padrinho também era Miro, Tio Miro, e isso causava um nó bem embolado na minha cabeça. Do Brizola, lembro porque meus pais eram brizolistas. Com Brizola era assim, não se era pedetista, se era brizolista. Lembro que estávamos atrasados. Para quê? Talvez para um almoço na casa do meu padrinho. Não lembro de chegarmos na casa do meu padrinho. Pra dizer a verdade, acho que nem lembro de fato da casa do meu padrinho ou de  Bento Ribeiro.  Eu lembro  mesmo é daquele táxi, da demora e de um clima de euforia. Acho que o Brizola ganhou aquela eleição.


Do Ubaldo Ribeiro, o que eu mais lembro é de um livro que nunca li, o “Viva o povo brasileiro”. Lembro que minha mãe era sócia do círculo do livro e todo mês chegava um livro do Monteiro Lobato pra mim e outros livros para os meus irmãos. Lembro que esse foi o Ricardo quem pediu. Lembro dele deitado no sofá, na nossa casa do Cachambi, do sol entrando pela porta de vidro, e o rosto dele tapado por esse livro. Lembro da capa do livro, que eu achava bonita, era um desenho de borboletas voando. O incrível é que hoje procurei as capas de “Viva o povo brasileiro”no google e não encontrei nenhuma edição com desenho de borboletas. Mas eu sei que sempre que eu pensar em João Ubaldo Ribeiro, lembrarei de borboletas voando, mesmo que elas só existam nas minhas lembranças mal lembradas.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Me julguem

Minha petite maison anda um pandemônio. Chiquinho se apaixonou pela pia do banheiro. Enquanto ele chorava abraçado a ela, Micaela gemia e rolava  pelo chão. A bichinha entrou, pela primeira vez, no cio. E eu assisti a tudo isso da minha cama, com minha perna imobilizada, devido a um tombo que levei no dia do meu aniversário. Micaela gemia, Chiquinho chorava e o vizinho quebrava vasos de planta pelo corredor. Meu vizinho está sendo expulso do prédio. Expulso mesmo! Os moradores entraram com uma ação na justiça contra ele, porque ele não era um bom vizinho. E venceram. Agora, ele diz que vai sair mas antes vai se vingar de todos. Ou seja, esperamos todos por uma bomba ou uma chuva ácida. O que esperar de uma pessoa que tem uma bandeira dos Estados Unidos hasteada na varanda (ele não é americano) e que joga óleo quente pela janela? Para dar um toque final ao pandemônio local, meu Macbook tirou férias e carregou com um ele uma pasta recheada de relatórios, resultado de semanas de trabalho. Isso é uma metáfora para: meu MacBook não liga e eu tenho uma penca de relatórios presa nele. E não, eu não salvei os arquivos num HD externo, nem num pendrive, nem no Google drive, nem no dropbox, nem ao menos mandei pro meu email. É isso mesmo, estou aqui para que vocês me julguem, estamos em 2014 e eu não fiz backup desses arquivos. Por isso, me julguem, dessa vez eu mereço.

Micaela tá no cio