sexta-feira, 18 de julho de 2014

Agora, eu lembro

Hoje eu descobri que Bento Ribeiro não é apenas o nome de um bairro do subúrbio carioca. É também o nome do filho de João Ubaldo Ribeiro. Hoje, dia em que o velho Ubaldo morreu, descobri isso. A morte do escritor e o nome do seu filho me trouxeram memórias que estavam empoeiradas em algum canto, algum canto tão escondido que eu nem mesmo lembrava que existiam. Mas agora, eu lembro.

Lembro vagamente de Bento Ribeiro, bairro de onde a Xuxa veio e onde meu padrinho morava, quando eu era bem criança. Lembro de um táxi, do Brizola, de ruas cheias e de um almoço. Do almoço, eu lembro sem lembrar. Lembro de estarmos num táxi. Meu pai na frente, eu, meus três irmãos e minha mãe espremidos no banco de trás. Lembro de uma exaltação, de ruas cheias, de trânsito. Era dia de eleição. E lembro que se falava do Brizola e do Miro Teixeira. O Miro, eu lembro porque meu padrinho também era Miro, Tio Miro, e isso causava um nó bem embolado na minha cabeça. Do Brizola, lembro porque meus pais eram brizolistas. Com Brizola era assim, não se era pedetista, se era brizolista. Lembro que estávamos atrasados. Para quê? Talvez para um almoço na casa do meu padrinho. Não lembro de chegarmos na casa do meu padrinho. Pra dizer a verdade, acho que nem lembro de fato da casa do meu padrinho ou de  Bento Ribeiro.  Eu lembro  mesmo é daquele táxi, da demora e de um clima de euforia. Acho que o Brizola ganhou aquela eleição.


Do Ubaldo Ribeiro, o que eu mais lembro é de um livro que nunca li, o “Viva o povo brasileiro”. Lembro que minha mãe era sócia do círculo do livro e todo mês chegava um livro do Monteiro Lobato pra mim e outros livros para os meus irmãos. Lembro que esse foi o Ricardo quem pediu. Lembro dele deitado no sofá, na nossa casa do Cachambi, do sol entrando pela porta de vidro, e o rosto dele tapado por esse livro. Lembro da capa do livro, que eu achava bonita, era um desenho de borboletas voando. O incrível é que hoje procurei as capas de “Viva o povo brasileiro”no google e não encontrei nenhuma edição com desenho de borboletas. Mas eu sei que sempre que eu pensar em João Ubaldo Ribeiro, lembrarei de borboletas voando, mesmo que elas só existam nas minhas lembranças mal lembradas.

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