quinta-feira, 21 de agosto de 2014

À deriva (mar e vazio)


Mar

Dia a dia, o mar me invadiu. Ou melhor, o mar brotou de mim. Convivia com a água salgada. Lembro de um dia, que na minha memória parece ter sido o começo, o dia que o mar violento precisava sair, se revoltar. Eu tinha feito uma cirurgia e era um exame pós ciurgico. A cirurgia não foi nada, foi feita com anestesia. Mas esse exame. Puta que pariu, não dá pra expressar de outro jeito. Era pra medir o endométrio, ver o útero ou algo que o valha. Sem anestesia. Como doeu! Saí daquela sala e me sentei numa cadeira, na sala de espera, tonta de tanta dor. Sozinha, me sentindo um nada na vida. E fui pra casa. Quando cheguei, uma dor tão grande me invadiu, que chorei desesperadamente. Não era mais a dor do exame, era uma angústia inconsolável, uma dor que eu não sabia de onde vinha e que eu não consegui mais segurar. A dor queria romper. Em casa, chorava todos os dias, no trabalho, precisava fugir para o banheiro, deixar as lágrimas caírem e esperar que a vermelhidão do olho amenizasse. Mas as vezes nem dava pra segurar, o choro invadia até minha baia. E eu ficava ali, tentando esconder os olhos, tentando me esconder.


Vazio

Após minha primeira ida ao psiquiatra, passei a tomar remédios para dormir. A primeira experiência era meio comprimido por noite, mas não adiantava. Só consegui acertar a dose ao chegar a dois por noite. O remédio se chama Stilnox. Eu o tomava e era como embarcar no vácuo. Eu dormia oito horas por noite, mas não tinha sonhos, nem pesadelos. Era um vazio completo e escuro entre a hora que eu dormia e eu acordava. Mas eu me sentia bem, meu corpo descansava e a segurança de uma noite sem interrupções era o que eu precisava naquele momento.  Acordava sempre disposta, até que algo começou a acontecer, algo de muito estranho. Eu acordava e não conseguia me levantar da cama. Até então, eu não era de ficar enrolando, sempre acordava pronta pra começar o dia. Podia ser cinco, seis ou sete horas da manhã, eu acordava e ia viver. Mas aí se tornou muito difícil levantar da cama. Não era vontade de dormir mais, ou simplesmente olhar para o teto. Era como se durante a noite, um bloco de cimento tivesse caído sobre mim, moldado meu corpo à cama e formado uma massa pesada, resistente e difícil de remover. Era assim que eu me sentia, havia algo muito pesado sobre mim, que me impedia de me movimentar. Eu estava acordada, mas não conseguia me levantar. E aqui é muito difícil de explicar. Não era uma opção, não era preguiça, não era dormir de novo, era uma incapacidade de me mover. Ficava um tempo assim, não sei quanto mas parecia muito, até vencer a paralisia e conseguir levantar.

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